sábado, 20 de abril de 2013



SEMANA DE 22 A 26 DE ABRIL

TÓPICO 2

TIC e aprendizagem – abordagem conceitual.

Nesta aula vamos focalizar alguns aspectos conceituais do uso educacional das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tendo como foco a atuação docente. Ela completa a aula anterior, em que tivemos como foco os alunos nativos digitais.
Partimos exatamente da pergunta feita naquele momento:
O que fazer para educar...



                                                     ???


Vamos pensar no educador que encontra uma criança ou adolescente nativo digital, com todas as características que vimos na aula anterior.

Brincando de fazer um teste...


Em 2007 (observem há quantos anos!!!) a Revista Época publicou uma matéria cujo título era “Os filhos da Era Digital”. No início a revista propunha um teste: "Descubra se você está mais para nativo ou imigrante digital".

Nunca é demais lembrar que esse tipo de teste é apenas uma brincadeira, nada tem a ver com testes psicológicos.


Alguns conceitos importantes no uso das TIC na Educação

  

   1)   Aprendizagem colaborativa

Aprendizagem colaborativa pode ser definida como o processo de construção do conhecimento decorrente da participação, do envolvimento e da contribuição ativa dos alunos na aprendizagem uns dos outros. Neste sentido, aprender colaborativamente consiste em um processo complexo de atividades sociais que é impulsionado por interações mediadas por várias relações (VYGOTSKY, 1998).
O autor alerta que as aprendizagens ocorridas a partir do trabalho colaborativo e coletivo oferecem vantagens não encontradas em ambientes de aprendizagem individualizada. Vygotsky admite que as constantes trocas e interações feitas entre as pessoas ajudam a pautar comportamentos e pensamentos e a dar significados às coisas e às pessoas. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre a partir da interação e da colaboração entre os sujeitos que fazem parte do processo pedagógico. As tecnologias, por sua vez, são os instrumentos mediadores da relação pedagógica que se estabelece entre os sujeitos e os ajudam a promover o desenvolvimento das funções psicológicas superiores (consciência, intenção, ação deliberada, planejamento, decisão etc.).
Segundo Torres e Amaral (2011) o uso das TIC em ambientes de aprendizagem concebidos na abordagem construtivista pode favorecer a aprendizagem colaborativa, especialmente se abrigar um processo comunicacional interativo, dinâmico e bilateral.



O quadro abaixo compara o processo didático tradicional e a aprendizagem colaborativa. É uma boa ilustração para esse conceito.


Continuando a utilizar mapas conceituais, como fizemos na primeira aula, este tem como conceito gerador a aprendizagem colaborativa:




2)   Autonomia






 A utilização das TIC como mediação nos processos de ensino e de aprendizagem, longe de produzir solidão, pode promover autonomia cognitiva.
O aluno é incentivado a desenvolver a autonomia para garantir a condução e efetivação de sua aprendizagem, pois não tem o acompanhamento docente presencial e direto o tempo todo. A construção do material didático, a estruturação dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), a escolha e utilização das ferramentas de ensino e de aprendizagem, o conhecimento mais aprofundado da turma, avaliações planejadas e continuadas e feedbacks constituem fatores fundamentais ao desenvolvimento da disciplina, ajudando a estimular a atitude autônoma e pesquisadora dos aprendentes.



2)   Interação




Não vamos mergulhar na polêmica distinção entre os termos interação e interatividade, famosa na área de estudos da educação com mediação das TIC, mas focar o processo de interação e a sua importância como conceito fundamental desta área. Ela é essencial para que a educação mediada por TIC seja efetivada em seus objetivos.
As relações que envolvem o homem acontecem a partir da interação. Ela é o processo que leva o indivíduo a reconhecer alguém diferente de si mesmo no processo de construção do conhecimento sobre a realidade, da visão de mundo.
Vygotsky é uma referência importante ao conceituarmos interação. O autor dá ênfase à dialética entre o indivíduo e a sociedade, o intenso efeito da interação social, da linguagem e da cultura sobre o processo de aprendizagem (interiorização do conhecimento através da transformação dos conceitos espontâneos em conceitos científicos).
Para Vygotsky (FRAWLEY, 2000, p. 91):
A criança nasce em um mundo preestruturado. A influência do grupo sobre a criança começa muito antes do nascimento, tanto nas circunstância implícitas, históricas e socioculturais herdadas pelos indivíduos como nos preparos explícitos, físicos e sociais mais óbvios que os grupos fazem antecipando o indivíduo. Tudo isso exerce sua força até mesmo em tarefas cotidianas simples que requerem o gerenciamento e o emprego da ação individual. (p. 91).

Thompson (1998, p. 80) fala em três tipos de interação e apresenta a tabela abaixo:
Características Interativas
Interação face a face
Interação mediada
Interação quase mediada [1]
Espaço-tempo
Contexto de co-presença; sistema referencial espaço-temporal comum.
Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço.
Separação dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço.
Possibilidade de deixas simbólicas
Multiplicidade de deixas simbólicas [2]
Limitação das possibilidades de deixas simbólicas
Limitação das possibilidades de deixas simbólicas
Orientação da atividade
Orientada para outros específicos
Orientada para outros específicos
Orientada para um número indefinido de receptores potenciais
Dialógica ou Monológica?
Dialógica
Dialógica
Monológica




[1] Na interação quase mediada não há disponibilidade do envio de mensagens, a modificação e a reorientação do fluxo da mensagem são restritas. Como exemplo, temos a televisão.


[2] Uma deixa simbólica é uma informação não falada que acompanha a mensagem principal. São trejeitos emitidos pelo sujeito. Por exemplo, uma pessoa pode responder que sim a uma pergunta, mas dando a entender que na realidade a resposta é não, através do rosto, dos olhos, dos lábios. Essa linguagem não verbal constitui um conjunto de “deixas simbólicas” que acompanham a mensagem, dando-lhe ênfase ou contradizendo-a.

 Lemos (2002) identifica três níveis de interação que não são excludentes entre si:
1. interação social ou simplesmente interação entre os homens, que é necessária para formar sociedade;
2. interação analógico-mecânica, que permite uma interação com a máquina, como os carros, por exemplo; e
3. interação eletrônico-digital, que possibilita ao usuário interagir não apenas com o objeto (a máquina ou a ferramenta), mas com a informação, o conteúdo, diferentemente dos media tradicionais.
No terceiro caso, como ocorre na educação com mediação das TIC, a tecnologia digital proporciona uma dupla ruptura - no modo de conceber a informação (baseado em processos microeletrônicos) e na maneira de difundir as informações (modelo “Todos-Todos”), que promove uma nova “qualidade” de interação.


Primo (2003) define interação como uma “ação entre” os participantes do encontro. Assim, o foco de análise está centrado na relação estabelecida entre os interagentes, e não nas partes que compõem o sistema global. Para tanto, são definidos dois tipos de interação mediada por computador, segundo uma abordagem sistêmico-relacional, e que podem ocorrer simultaneamente: a interação mútua, na qual os interagentes reúnem-se em torno de contínuas problematizações, existindo modificações recíprocas dos interagentes durante o processo; e interação reativa, que depende da previsibilidade e da automatização nas trocas baseadas em relações potenciais de estímulo-resposta por pelo menos um dos envolvidos na interação.
Um resumo das ideias de Primo sobre interação pode ser lido na apresentação que se encontra em  http://www.slideshare.net/agner/o-conceito-de-interao


Concluindo a nossa aula...

Ficou claro, então, que o professor que ensina nativos digitais precisa, além de conhecer as características dos mesmos, estar apto a trabalhar com a aprendizagem colaborativa, o desenvolvimento da autonomia e a promoção da interação, todos com apoio da mediação tecnológica.


Mas uma pergunta é oportuna...

O PROFESSOR ESTÁ SENDO PREPARADO PARA ISSO?

Os docentes vivem os dilemas e desafios de um tempo de transição: foram formados na cultura oralista e presencial, acostumados a olhar o outro e interagir no mesmo meio físico de forma síncrona. Segundo Prensky (2001), os professores que atuam na escola e possuem mais de vinte anos são imigrantes no ciberespaço. Ou seja, nasceram em outro meio e aprenderam a construir conhecimento de forma diferente do que esta geração denominada de “nativos” faz.
O docente imigrante digital vive a contradição de ser formado para dominar as formas de produzir e consumir conhecimento utilizando as tecnologias da oratória e de lápis e papel e ser desafiado a organizar situações de aprendizagem utilizando o ferramental digital.
Defendemos a posição de que há necessidade de uma sólida base de pesquisa e desenvolvimento de suporte teórico que leve à profunda reflexão sobre os cursos de formação de educadores e sobre construção práxica que permita ao professor aplicar à prática docente as teorias que aprende na sua formação.
Segundo Peluso (1998, p. 163):
Somos habituados a ensinar estilos padronizados e generalizados de resolução de problemas. O computador premia a criatividade, a divergência, exercita a criança para tentar caminhos diversos. É possível resolver o mesmo problema, chegar ao mesmo resultado segundo percursos alternativos aos habitualmente adotados.

Essa discussão transcende a questão do equipamento das escolas, mas aponta para uma revisão dos saberes docentes necessários ao trabalho com os alunos que hoje encontramos.
Para Giraffa (1999, p.25), “novas metodologias quem faz é o professor e não o computador, logo, capacitar o professor a entender e aplicar a tecnologia na sua prática docente é fundamental".
Para adensar essa reflexão e imediatamente antes do próximo tópico, que focalizará alguns conceitos teóricos de Albert Bandura, sugerimos a leitura do texto TECNOLOGIAS DIGITAIS E AÇÕES DE APRENDIZAGEM DOS NATIVOS DIGITAIS, apresentado em 2010 no Congresso Internacional de Filosofia e Educação, disponível em http://www.ucs.br/ucs/tplcinfe/eventos/cinfe/artigos/artigos/arquivos/eixo_tematico7/TECNOLOGIAS%20DIGITAIS%20E%20ACOES%20DE%20APRENDIZAGEM%20DOS%20NATIVOS%20DIGITAIS.pdf.

Para complementar a leitura sugerimos o vídeo "(Re)Pensar a escola com as TIC", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LgtZMqYDxX8.
A

Esperamos que tenham gostado da aula de hoje.



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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA AULA
FRAWLEY, W. Vygotsky e a Ciência Cognitiva: Linguagem e Integração das mentes Social e Computacional. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
GIRAFFA, Lúcia Maria. Uma Arquitetura de Tutor Utilizando Estados Mentais. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) - Instituto de Informática, UFRGS, Porto Alegre, 1999.
LEMOS, A. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto
Alegre: Sulina, 2002.
PELUSO, Ângelo. Informática e afetividade: a evolução tecnológica condicionará
nossos sentimentos. Bauru: Editora Edusc, 1998.
PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, 2001.
PRIMO, A. F. T. Interação mediada por computador: a comunicação e a educação a distância segundo uma perspectiva sistêmico-relacional. 2003. Tese (doutorado em Informática da Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em PDF na biblioteca on-line da UFRGS pelo endereço www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?nrb=000449573&loc=2005&l=568e019f14c343fc.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998.
TORRES, T. Z.  e AMARAL, S. F. Aprendizagem Colaborativa e Web 2.0:  proposta de modelo de organização de  conteúdos interativos. Revista ETD – Educação Temática Digital. Campinas, v.12, n.esp., p.49-72, mar. 2011. Disponível em http://educa.fcc.org.br/pdf/etd/v12n03/v12n03a06.pdf
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1998.



3 comentários:

  1. Alunos queridos, vocês podem interagir comigo e com a equipe da disciplina através desse espaço. Então, podem postar as dúvidas e comentários.
    Beijo para todos.

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  2. Aula maravilhosa... É incrível como os textos de Vigotsky parecem prever a tecnologia, ou a técnologia dá vida as ideias dele... Tratando o professor como mediador da turma, que por sua vez deve trabalhar em uma espécie de colaboração.
    Definitivamente os ciberespaços chegaram para colocarmos um ponto final na educação bancária,onde os alunos são um depósito de conhecimento, e darmos início a uma nova forma de trabalho, onde o professor permite que os alunos construam o seu próprio conhecimentom interagindo com o meio q com as atualidades.

    Aline Silva dos Santos

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  3. Pois é Aline, também tenho uma enorme admiração por Vygotsky. Penso que a sua obra, bem estudada, pode melhorar muito a aplicação das tecnologias de informação e comunicação aos processos de ensino e aprendizagem.
    Obrigada pelo elogio à aula, ela foi preparada com muito carinho para vocês.
    Beijo.
    Eloiza

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