SEMANA DE 22 A 26 DE ABRIL
TÓPICO 2
TIC e aprendizagem – abordagem conceitual.
Nesta aula vamos
focalizar alguns aspectos conceituais do uso educacional das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), tendo como foco a atuação docente. Ela completa
a aula anterior, em que tivemos como foco os alunos nativos digitais.
Partimos exatamente
da pergunta feita naquele momento:
O que fazer para
educar...
???
Vamos
pensar no educador que encontra uma criança ou adolescente nativo digital, com
todas as características que vimos na aula anterior.
Brincando de fazer um teste...
Em 2007 (observem
há quantos anos!!!) a Revista Época publicou uma matéria cujo título era “Os
filhos da Era Digital”. No início a revista propunha um teste: "Descubra se você está mais para nativo ou imigrante digital".
O link de acesso é http://editora.globo.com/pesquisas/quiz_epoca_070907.htm.
Nunca é demais
lembrar que esse tipo de teste é apenas uma brincadeira, nada tem a ver com
testes psicológicos.
Alguns conceitos importantes no uso das TIC na Educação
1)
Aprendizagem colaborativa
Aprendizagem
colaborativa pode ser definida como o processo de construção do conhecimento
decorrente da participação, do envolvimento e da contribuição ativa dos alunos
na aprendizagem uns dos outros. Neste sentido, aprender colaborativamente consiste
em um processo complexo de atividades sociais que é impulsionado por interações
mediadas por várias relações (VYGOTSKY, 1998).
O autor alerta que
as aprendizagens ocorridas a partir do trabalho colaborativo e coletivo
oferecem vantagens não encontradas em ambientes de aprendizagem
individualizada. Vygotsky admite que as constantes trocas e interações feitas
entre as pessoas ajudam a pautar comportamentos e pensamentos e a dar
significados às coisas e às pessoas. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre a
partir da interação e da colaboração entre os sujeitos que fazem parte do
processo pedagógico. As tecnologias, por sua vez, são os instrumentos mediadores
da relação pedagógica que se estabelece entre os sujeitos e os ajudam a promover
o desenvolvimento das funções psicológicas superiores (consciência, intenção, ação
deliberada, planejamento, decisão etc.).
Segundo Torres e Amaral (2011) o uso das TIC em
ambientes de aprendizagem concebidos na abordagem construtivista pode favorecer
a aprendizagem colaborativa, especialmente se abrigar um processo
comunicacional interativo, dinâmico e bilateral.
O quadro abaixo compara o processo didático tradicional e a aprendizagem
colaborativa. É uma boa ilustração para esse conceito.
Continuando a utilizar mapas conceituais, como fizemos na primeira aula,
este tem como conceito gerador a aprendizagem colaborativa:
2) Autonomia
A utilização das
TIC como mediação nos processos de ensino e de aprendizagem, longe de produzir
solidão, pode promover autonomia cognitiva.
O aluno é
incentivado a desenvolver a autonomia para garantir a condução e efetivação de
sua aprendizagem, pois não tem o
acompanhamento docente presencial e direto o tempo todo. A construção do
material didático, a estruturação
dos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), a escolha e utilização das
ferramentas de ensino e de aprendizagem, o conhecimento mais aprofundado da turma,
avaliações planejadas e continuadas e feedbacks constituem fatores
fundamentais ao desenvolvimento da disciplina, ajudando a estimular a atitude
autônoma e pesquisadora dos aprendentes.
2) Interação
Não vamos mergulhar
na polêmica distinção entre os termos interação e interatividade, famosa na
área de estudos da educação com mediação das TIC, mas focar o processo de
interação e a sua importância como conceito fundamental desta área. Ela é
essencial para que a educação mediada por TIC seja efetivada em seus objetivos.
As relações que
envolvem o homem acontecem a partir da interação. Ela é o processo que leva o
indivíduo a reconhecer alguém diferente de si mesmo no processo de construção
do conhecimento sobre a realidade, da visão de mundo.
Vygotsky é uma
referência importante ao conceituarmos interação. O autor dá ênfase à dialética
entre o indivíduo e a sociedade, o intenso efeito da interação social, da
linguagem e da cultura sobre o processo de aprendizagem (interiorização do
conhecimento através da transformação dos conceitos espontâneos em conceitos
científicos).
Para Vygotsky (FRAWLEY, 2000, p. 91):
A criança nasce em um mundo preestruturado. A
influência do grupo sobre a criança começa muito antes do nascimento, tanto nas
circunstância implícitas, históricas e socioculturais herdadas pelos indivíduos
como nos preparos explícitos, físicos e sociais mais óbvios que os grupos fazem
antecipando o indivíduo. Tudo isso exerce sua força até mesmo em tarefas
cotidianas simples que requerem o gerenciamento e o emprego da ação individual. (p. 91).
Thompson (1998, p.
80) fala em três tipos de interação e apresenta a tabela abaixo:
Características
Interativas
|
Interação
face a face
|
Interação
mediada
|
Interação
quase mediada [1]
|
Espaço-tempo
|
Contexto
de co-presença; sistema referencial espaço-temporal comum.
|
Separação
dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço.
|
Separação
dos contextos; disponibilidade estendida no tempo e no espaço.
|
Possibilidade
de deixas simbólicas
|
Multiplicidade
de deixas simbólicas [2]
|
Limitação
das possibilidades de deixas simbólicas
|
Limitação
das possibilidades de deixas simbólicas
|
Orientação
da atividade
|
Orientada
para outros específicos
|
Orientada
para outros específicos
|
Orientada
para um número indefinido de receptores potenciais
|
Dialógica
ou Monológica?
|
Dialógica
|
Dialógica
|
Monológica
|
[1] Na interação quase mediada não
há disponibilidade do envio de mensagens, a modificação e a reorientação do
fluxo da mensagem são restritas. Como exemplo, temos a televisão.
[2] Uma deixa simbólica é uma informação não falada que acompanha
a mensagem principal. São trejeitos emitidos pelo sujeito. Por exemplo, uma
pessoa pode responder que sim a uma pergunta, mas dando a entender que na
realidade a resposta é não, através do rosto, dos olhos, dos lábios. Essa
linguagem não verbal constitui um conjunto de “deixas simbólicas” que
acompanham a mensagem, dando-lhe ênfase ou contradizendo-a.
Lemos (2002) identifica três níveis de interação que não são excludentes entre si:
1. interação social ou simplesmente interação
entre os homens, que é necessária para formar sociedade;
2. interação analógico-mecânica, que permite uma
interação com a máquina, como os carros, por exemplo; e
3. interação eletrônico-digital, que possibilita
ao usuário interagir não apenas com o objeto (a máquina ou a ferramenta), mas
com a informação, o conteúdo, diferentemente dos media tradicionais.
No terceiro caso, como ocorre na educação com mediação
das TIC, a tecnologia digital proporciona uma dupla ruptura - no modo de conceber
a informação (baseado em processos microeletrônicos) e na maneira de difundir
as informações (modelo “Todos-Todos”), que promove uma nova “qualidade” de
interação.
Primo (2003) define interação como uma “ação
entre” os participantes do encontro. Assim, o foco de análise está centrado na
relação estabelecida entre os interagentes, e não nas partes que compõem o sistema
global. Para tanto, são definidos dois tipos de interação mediada por
computador, segundo uma abordagem sistêmico-relacional, e que podem ocorrer
simultaneamente: a interação mútua, na qual os interagentes reúnem-se em torno
de contínuas problematizações, existindo modificações recíprocas dos interagentes
durante o processo; e interação reativa, que depende da previsibilidade e da
automatização nas trocas baseadas em relações potenciais de estímulo-resposta
por pelo menos um dos envolvidos na interação.
Um resumo das ideias de Primo sobre interação pode ser lido na
apresentação que se encontra em http://www.slideshare.net/agner/o-conceito-de-interaoConcluindo a nossa aula...
Ficou claro, então,
que o professor que ensina nativos digitais precisa, além de conhecer as
características dos mesmos, estar apto a trabalhar com a aprendizagem colaborativa,
o desenvolvimento da autonomia e a promoção da interação, todos com apoio da
mediação tecnológica.
Mas uma pergunta é oportuna...
O PROFESSOR ESTÁ SENDO PREPARADO PARA ISSO?
Os
docentes vivem os dilemas e desafios de um tempo de transição: foram formados
na cultura oralista e presencial, acostumados a olhar o outro e interagir no
mesmo meio físico de forma síncrona. Segundo Prensky (2001), os professores que
atuam na escola e possuem mais de vinte anos são imigrantes no ciberespaço. Ou
seja, nasceram em outro meio e aprenderam a construir conhecimento de forma
diferente do que esta geração denominada de “nativos” faz.
O
docente imigrante digital vive a contradição de ser formado para dominar as
formas de produzir e consumir conhecimento utilizando as
tecnologias da oratória e de lápis e papel e ser desafiado
a organizar situações de aprendizagem utilizando o ferramental digital.
Defendemos a posição de que há necessidade de uma sólida base de
pesquisa e desenvolvimento de suporte teórico que leve à profunda reflexão
sobre os cursos de formação de educadores e sobre construção práxica que
permita ao professor aplicar à prática docente as teorias que aprende na sua
formação.
Segundo Peluso (1998, p. 163):
Somos habituados a ensinar estilos padronizados e
generalizados de resolução de problemas. O computador premia a criatividade, a
divergência, exercita a criança para tentar caminhos diversos. É possível
resolver o mesmo problema, chegar ao mesmo resultado segundo percursos alternativos
aos habitualmente adotados.
Essa discussão transcende a questão
do equipamento das escolas, mas aponta para uma revisão dos saberes docentes
necessários ao trabalho com os alunos que hoje encontramos.
Para Giraffa (1999,
p.25), “novas metodologias quem faz é o professor e não o computador, logo, capacitar o professor a
entender e aplicar a tecnologia na sua prática docente é
fundamental".
Para adensar essa reflexão e
imediatamente antes do próximo tópico, que focalizará alguns conceitos teóricos
de Albert Bandura, sugerimos a leitura do texto TECNOLOGIAS DIGITAIS E AÇÕES DE APRENDIZAGEM
DOS NATIVOS DIGITAIS, apresentado
em 2010 no Congresso Internacional de Filosofia e Educação, disponível em http://www.ucs.br/ucs/tplcinfe/eventos/cinfe/artigos/artigos/arquivos/eixo_tematico7/TECNOLOGIAS%20DIGITAIS%20E%20ACOES%20DE%20APRENDIZAGEM%20DOS%20NATIVOS%20DIGITAIS.pdf.
Para complementar a
leitura sugerimos o vídeo "(Re)Pensar
a escola com as TIC", disponível
em http://www.youtube.com/watch?v=LgtZMqYDxX8.
A |
Esperamos que tenham gostado da aula de hoje.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS DA AULA
FRAWLEY, W. Vygotsky
e a Ciência Cognitiva: Linguagem e Integração das mentes Social
e Computacional. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
GIRAFFA, Lúcia Maria. Uma Arquitetura de
Tutor Utilizando Estados Mentais. Tese (Doutorado em Ciência da Computação) -
Instituto de Informática, UFRGS, Porto Alegre,
1999.
LEMOS, A. Cibercultura,
tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto
Alegre: Sulina, 2002.
PELUSO, Ângelo. Informática
e afetividade: a evolução tecnológica condicionará
nossos sentimentos. Bauru: Editora Edusc, 1998.
PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, 2001.
Disponível em: http://www.marcprensky.com/writing/prensky%20-%20digital%20natives,%20digital%20immigrants%20-%20part1.pdf.
PRIMO, A. F. T. Interação mediada por computador: a
comunicação e a educação a distância segundo uma perspectiva
sistêmico-relacional. 2003. Tese (doutorado em Informática da Educação).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em PDF na
biblioteca on-line da UFRGS pelo endereço www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?nrb=000449573&loc=2005&l=568e019f14c343fc.
TORRES,
T. Z. e AMARAL, S. F.
Aprendizagem Colaborativa e Web 2.0: proposta
de modelo de organização de conteúdos
interativos. Revista ETD –
Educação Temática Digital. Campinas, v.12, n.esp., p.49-72, mar. 2011.
Disponível em http://educa.fcc.org.br/pdf/etd/v12n03/v12n03a06.pdf.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo, SP: Martins
Fontes, 1998.
Alunos queridos, vocês podem interagir comigo e com a equipe da disciplina através desse espaço. Então, podem postar as dúvidas e comentários.
ResponderExcluirBeijo para todos.
Aula maravilhosa... É incrível como os textos de Vigotsky parecem prever a tecnologia, ou a técnologia dá vida as ideias dele... Tratando o professor como mediador da turma, que por sua vez deve trabalhar em uma espécie de colaboração.
ResponderExcluirDefinitivamente os ciberespaços chegaram para colocarmos um ponto final na educação bancária,onde os alunos são um depósito de conhecimento, e darmos início a uma nova forma de trabalho, onde o professor permite que os alunos construam o seu próprio conhecimentom interagindo com o meio q com as atualidades.
Aline Silva dos Santos
Pois é Aline, também tenho uma enorme admiração por Vygotsky. Penso que a sua obra, bem estudada, pode melhorar muito a aplicação das tecnologias de informação e comunicação aos processos de ensino e aprendizagem.
ResponderExcluirObrigada pelo elogio à aula, ela foi preparada com muito carinho para vocês.
Beijo.
Eloiza