SEMANA DE 06 A 10 DE MAIO
TÓPICO 3
BANDURA E A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL
Um pouco da biografia do teórico
Albert Bandura nasceu em
04/12/1925 na cidadezinha de Mundare ao norte de Alberta, no Canadá. Estudou em
uma escola do ensino fundamental e ensino médio de poucos recursos. Depois
trabalhou durante um verão preenchendo buracos sobre o Alaska Higway em Yukou.
Formou-se em bacharel em Psicologia pela Universidade da Colúmbia Inglesa em
1949, e recebeu o título de doutor pela Universidade do Estado de Iowa, em
1952, onde foi influenciado pela tradição do behaviorismo e pela teoria da
aprendizagem. Começou a ensinar a Universidade de Stanford em 1953, e com a
ajuda de um dos seus primeiros alunos formados, Richard Walters, escreveu seu
primeiro livro "Adolescent Aggression", em 1959. Entretanto, Walters
morreu jovem em um acidente de carro. A partir dos anos 60, ele propôs uma
versão do comportamentalismo inicialmente definida como Teoria da Aprendizagem
Social, mas depois denominada Teoria Social
Cognitiva. O professor Bandura foi presidente da associação Americana de
Psicologia em 1974 e recebeu desta o prêmio por Ilustres Contribuições Científicas em 1980. Ele entrou para a
Universidade de Stanford em 1953, onde trabalha até os dias de hoje.
Principais conceitos da Teoria
1. O modelo triádico
A
perspectiva da Teoria Social Cognitiva afirma a existência de uma interação
recíproca entre sujeito (fatores pessoais – cognições e afetos), circunstâncias
ou variáveis do meio e ações ou comportamento. As pessoas interferem na
percepção do ambiente, geram auto estímulos e incentivos, avaliam os
acontecimentos e exercem influência sobre o próprio comportamento, ou seja,
“[...] o comportamento é determinado a partir da interação continua e reciproca
entre as influências ambientais, pessoais e comportamentais: o modelo triádico”
(BANDURA et al, 2008, p. 151).
Os autores destacam que “a influência relativa que esses três conjuntos de
fatores interconectados exercem varia em diferentes indivíduos e sob diferentes
circunstâncias” (BANDURA, 1978 apud BANDURA et al, 2008, p.46).
Segundo o próprio
Bandura:
As pessoas nem são
dirigidas por forças internas nem automaticamente moldadas e controladas pelos
estímulos internos. O funcionamento humano é preferencialmente explicado em
termos de um modelo de reciprocidade triádica no qual o comportamento, os
fatores pessoais e cognitivos e os eventos ambientais, todos (sem distinção)
atuam como determinantes interagindo com o outro. (Bandura, 1986, p. 18).
2. As capacidades básicas do ser humano
A teoria social cognitiva descreve o homem como um ser proativo, agente da própria historia, não apenas espectador, “os agentes não são apenas planejadores e prognosticadores, mas também são auto reguladores, isto é, auto investigadores do seu funcionamento” (BANDURA et al, 2008, p.150).
Nessa perspectiva teórica o individuo possui certas capacidades que o auxiliam a direcionar a vida e fazer escolhas. Em função dessas capacidades básicas, o homem “possui um sistema auto referente que lhe possibilita agir intencionalmente em direção a fins específicos, elaborar planos de ação, antecipar resultados, avaliar e replanejar cursos de ação” (BANDURA, 2001 apud AZZI &POLYDORO, 2006, p. 17).
Quais são essas capacidades?
- Capacidade de simbolização
- Capacidade de antecipação
Parte
do comportamento humano é dirigido para objetivos e metas direcionados ao
futuro, por antecipação das prováveis consequências das ações futuras.
Essa “tirinha” do
grande cartunista Maurício de Souza ilustra bem essa capacidade.
- Capacidade vicariante
Esta capacidade
habilita as pessoas a aprenderem através da observação de comportamentos de
outras pessoas e das consequências desses comportamentos para elas.
- Capacidade de auto regulação
Segundo
Bandura as pessoas não se comportam somente para satisfazer as preferências de
outros. Ao contrário, muitos comportamentos são motivados e regulados por padrões
internos e reações auto avaliativas das próprias ações.
- Capacidade de auto reflexão
A
capacidade auto reflexiva envolve principalmente as crenças que as pessoas têm
a respeito de si mesmas, proporcionando uma organização das auto percepções.
Aqui
podemos incluir o que Bandura chamou de crenças de auto eficácia: “julgamentos das pessoas em suas capacidades para
organizar e
executar cursos de ação necessários para alcançar certos tipos de desempenho” (BANDURA,
1986, p. 391). Através desta percepção o indivíduo escolhe os desafios que
deseja enfrentar na vida, o esforço que irá investir e quanto irá perseverar ao
encontrar obstáculos e fracassos.
As percepções de auto eficácia influem na forma
como os seres humanos empregam o conhecimento e as habilidades que possuem.
Elas exercem influência na forma como eles pensam, se motivam e se comportam.
Resumindo o efeito das capacidades que citamos
podemos afirmar, como Bandura:
Em
síntese, as crenças de eficácia desempenham um papel central na auto regulação
não só porque afetam as ações diretamente, mas também devido ao impacto nos
determinantes cognitivos, motivacionais e afetivos (Bandura, 2001). As crenças
de eficácia pessoal influenciam quais padrões de auto regulação a pessoa adota,
o tipo de escolhas diante das decisões que surgem no decorrer da vida, e o nível
de esforço a ser investido em determinada meta, de persistência diante de
dificuldades, de resiliência diante da adversidade, de vulnerabilidade ao
estresse e de depressão, (BANDURA et al, 2008, p. 158).
Ocorre
principalmente através de três processos:
- Por desenvolvimento.
- Por condicionamento.
- Por conduta instrumental (observação e imitação ou modelagem).
Para
o autor, muito do que aprendemos ocorre no contexto social, através da
observação e imitação de modelos. Chama a esse processo APRENDIZAGEM SOCIAL OU OBSERVACIONAL OU POR MODELAGEM.
Há
quatro componentes envolvidos na aprendizagem através de modelos:
(1)
Atenção
(2)
Retenção
(3)
Reprodução
motora
(4) Motivação (Reforço)
Condições que possibilitam a aprendizagem por observação / imitação.
Características
|
Efeitos sobre a modelagem
|
n
Do modelo
|
Prestígio,
status, competência.
Idade e sexo.
|
n
Do observador
|
Idade e nível
intelectual.
Sexo, características
emocionais, traços de personalidade.
Expectativas de
resultados.
Auto eficácia.
|
n
Da conduta do modelo
|
As consequências
da conduta do modelo fornecem “pistas” ao observador, quanto à adequação do
comportamento e aos prováveis resultados.
|
Assistam
agora ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=quqkR_LlQ5U.
Ele ilustra bem esse tipo de aprendizagem.
Reflitam um pouco sobre as atitudes aprendidas por modelagem que vocês viram no
vídeo e sobre a importância do papel dos adultos (pais, professores) na
formação da personalidade das crianças e adolescentes.
Na
Teoria Social Cognitiva o professor tem como função apresentar um modelo que
pode ser real ou simbólico. Ele deve criar ou propor um modelo que mostre, com
evidência, as pistas de modelação (os comportamentos específicos). Este modelo
proposto deve ser codificado ou ser simbolicamente representado para facilitar
a memorização do aluno. O professor pode premiar, punir, motivar ou incentivar
o comportamento do aluno.
4. A famosa experiência de Bandura
sobre a aprendizagem do comportamento agressivo por modelagem
Bandura desenvolveu experimentos que hoje são
considerados clássicos.
Um deles foi realizado com três grupos de crianças
em idade pré-escolar e que consistia na observação
de um filme em que um adulto agressivo atuava ao
vivo, golpeando um boneco “João Bobo” (alguns conhecem esse brinquedo como João
Teimoso). O final de cada filme
era diferente. No primeiro, o adulto era recompensado. No segundo, era punido e no terceiro, não sofria
nenhuma consequência.
Depois, as crianças foram colocadas em uma sala onde
podiam ser observadas sem perceberem. Na sala havia diferentes brinquedos,
dentre eles o João Bobo. Bandura observou que o grupo que viu o adulto sendo
recompensado tendia a repetir com maior frequência as agressões, se comparado
aos dois últimos grupos.
Resumindo, os resultados da pesquisa demonstraram que se um agressor em um filme é punido
pelos seus atos há uma inibição de comportamento agressivo de quem assiste,
mesmo se o comportamento tivesse sido aprendido. Por outro lado, quando o
agressor observado não é punido, ou ainda, é recompensado, as inibições contra
a agressão diminuem e o observador tende a atacar (conforme aprendeu com o
modelo) um alvo disponível.
Bandura
comprovou, assim, que o juízo
que fazemos de certos comportamentos é determinante para resposta a
determinados estímulos, provocando a aprendizagem.
O experimento pode ser visto no vídeo disponível emhttp://www.youtube.com/watch?v=-SvwAVr4cvk.
Embora
Albert Bandura não tenha se dedicado a pesquisas na área, seus conceitos
teóricos são bastante importantes para nós.
Convidamos
vocês a uma rápida releitura do que foi dito até agora na aula e a uma
tentativa de estabelecer a relação proposta no início deste tópico: os
conceitos teóricos de Bandura e a aplicação de mediação das Tecnologias de
Informação e Comunicação aos processos de ensino e de aprendizagem.
Para
completar a sua reflexão vamos apresentar três pontos de importante
convergência entre os conceitos enunciados pro Bandura e o desenvolvimento da
educação com mediação tecnológica.
A mediação tecnológica permite o
oferecimento de condições de simulação de situações reais que não seriam
possíveis no formato presencial. Por exemplo, os alunos podem visitar virtualmente
um museu ao qual normalmente não teriam acesso. Isso permite a criação de
condições bastante satisfatórias para que ocorra a aprendizagem por observação.
Há possibilidade de oferecimento
ampliado reforço a cada acerto ou resposta correta que o aluno dá, fortalecendo
o processo motivacional destacado por Bandura como essencial para a
aprendizagem.
A educação com recurso à mediação das
TIC promove o desenvolvimento da autonomia no processo de aprendizagem, tão
almejado pelos professores.
Através desse modelo são estimuladas
capacidades humanas que o autor destaca em sua obra, como a simbolização, a
antecipação e a auto reflexão.
Favorece ao professor fortalecer a
capacidade vicariante, através da observação do resultado do comportamento de
outras pessoas, em situações que não seriam possíveis presencialmente (a
aprendizagem de atitudes como a segurança, a preservação do meio ambiente, o
cuidado com os animais, por exemplo).
Finalmente, facilita o desenvolvimento
da auto eficácia tão destacada pelo autor e de forte efeito motivacional,
levando o aluno a, nas palavras do próprio Albert Bandura, que escreveu o
verbete do tema na Encyclopedia
of human behavior.
A auto eficácia
percebida é definida como a opinião da pessoa sobre suas capacidades em
produzir níveis de desempenho designados que exercem influência sobre os
eventos que afetam suas vidas. Crenças de auto eficácia determinam como as
pessoas sentem, pensam, motivam-se e comportam-se. Tais crenças produzem
efeitos diversos por meio de quatro processos principais: cognitivos,
motivacionais, afetivos e processos de seleção.
Um forte senso
de eficácia reforça a realização humana e o bem estar pessoal de várias
maneiras. Pessoas com elevada confiança em sua capacidade abordam tarefas
difíceis como desafios a serem superados ao invés de ameaças a serem evitadas.
Tal perspectiva eficaz promove o interesse intrínseco e a dedicação profunda nas
atividades. Essas pessoas se impõem objetivos desafiantes e mantêm forte
compromisso com os mesmos. Elas aumentam e sustentam seus esforços nos
fracassos. Recuperam rapidamente seu senso de eficácia após insucessos ou
revezes. Atribuem a falha ao esforço insuficiente ou ao conhecimento e
habilidades deficientes, os quais são adquiríveis. Abordam situações de ameaça
com confiança de que podem exercer o controle sobre elas. Tal abordagem eficaz
produz realizações pessoais, reduz o estresse e diminui a vulnerabilidade à
depressão.
De forma
oposta, pessoas que duvidam suas capacidades ficam intimidadas diante de
tarefas difíceis que veem como ameaças pessoais. Têm baixas aspirações e um
fraco compromisso aos objetivos que escolhem levar a cabo. Quando confrontados
com tarefas difíceis, ocupam-se com suas deficiências pessoais, com os
obstáculos encontrarão, e todos os tipos de resultados adversos ao invés de se
concentrarem em como desempenhar sua tarefa com sucesso. Afrouxam seus esforços
e desistem rapidamente face às dificuldades. São lentos em recuperar seu senso
de eficácia após um fracasso ou revés. Como veem o desempenho insuficiente como
aptidão deficiente, não é preciso muito fracasso para que percam a fé em suas
capacidades. Caem facilmente como vítimas do estresse e da depressão. (BANDURA,
1994, p. 71).
Ao
falarmos em auto eficácia e nas demais capacidades humanas descritas por
Bandura, nunca é demais lembrar Paulo Freire:
Referências
bibliográficas
AZZI, R.
G.; POLYDORO, S.A.J. (Orgs). Auto eficácia
em diferentes contextos. São Paulo: Editora Alínea, 2006.
BANDURA, A. Social foundations of thought and action: a social cognitive
theory. Englewood Cliffs, NJ; Prentice Hall, 1986.
BANDURA, A.
Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran
(Ed.), Encyclopedia of human behavior. Vol. 4, 1994, p. 71-81.
Disponível em http://www.uky.edu/~eushe2/Bandura/Bandura1994EHB.pdf,
BANDURA,
A. et al. Teoria Social Cognitiva:
Conceitos básicos. Porto Alegre: ARTMED, 2008.
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