domingo, 26 de maio de 2013


SEMANA DE 27 A 31/05

TÓPICO 6

Bruner, a constituição da mente e a construção de significados


Olá, querido aluno, esta semana vamos estudar juntos o quarto teórico da aprendizagem previsto na ementa desta disciplina: Jerome Seymour Bruner. Ele afirmava que qualquer assunto pode ser ensinado com eficiência, a qualquer pessoa, em qualquer estágio de desenvolvimento.
ENSINAR = apresentar a estrutura do conteúdo, de acordo com a etapa de desenvolvimento de quem aprende.


Um pouco da biografia do teórico




Jerome Brunet nasceu em 1915 em Nova York, formou-se em psicologia pela Universidade de Duke, em 1937, e posteriormente em 1941 em Harvard.
Em 1950 trabalhou em Harvard como professor no Departamento de Relações sociais, onde com outros profissionais formou um grupo de estudo interdisciplinar das ciências sociais. Logo, após criou um centro de estudo cognitivo. Por esse motivo muitos o consideram “pai da psicologia cognitiva.
Desafiou o paradigma do behaviorismo de Skinner criticando os postulados que focavam apenas nos fenômenos observáveis e a aprendizagem por condicionamento.




Desenvolveu a teoria da estrutura cognitiva (esquemas e modelos mentais) e acredita que o processo de aprendizagem ocorre internamente.
Bruner pesquisou o trabalho de sala de aula, pesquisou o desenvolvimento infantil e escreveu importantes trabalhos sobre educação. Tornou-se muito conhecido no âmbito da Pedagogia por sua participação no movimento de reforma curricular nossa Estados Unidos que veio a ser conhecido como Revolução Cognitiva, na década de 1960.
Membro da academia Americana de Artes e Ciências vive em Nova York, proferindo palestras por alguns estados dos Estados Unidos, e pesquisa uma nova teoria de aprendizagem na qual deve existir uma interação entre teoria e realidade.
Você pode complementar essa biografia assistindo o vídeo disponível em




Alguns conceitos importantes do teórico
1.   Aprendizagem por descoberta
Jerome Bruner preocupava-se em promover a participação ativa do aluno no processo de aprendizagem, enfatizando a "aprendizagem por descoberta". Destaca a exploração de alternativas que o ambiente ou conteúdo de ensino deve proporcionar, para que o aluno possa inferir relações e estabelecer similaridades entre as ideias apresentadas, favorecendo a descoberta de princípios ou relações.
Em sua teoria de Bruner leva em consideração a curiosidade do aluno e o papel do professor como instigador da mesma, sendo denominada teoria (ou método) da descoberta.



Sobre essa forma de aprendizagem disse Bruner, exemplificando com uma situação de sala de aula:
"O conceito de números primos parece ser mais prontamente compreendido quando a criança, através da construção, descobre que certos punhados de feijões não podem ser espalhados em linhas e colunas completas. Tais quantidades têm que ser colocadas em uma fila única ou em um modelo incompleto de linha-coluna no qual existe sempre um a mais, ou alguns a menos, para preencher o padrão. Estes padrões, que as crianças aprendem, são chamados de primos. É fácil para a criança ir desta etapa para o reconhecimento de que uma denominada tabela múltipla é uma folha-registro das quantidades em várias colunas e linhas completadas. Aqui está a fatoração, multiplicação e primos, em uma construção que pode ser visualizada." (BRUNER, 1973, p. 197).

2.   Estágios de representação do mundo pelo indivíduo

Seu enfoque do desenvolvimento considera que a criança, em diferentes etapas da vida, representa o mundo com o qual interage segundo três estágios:
a)      Enativo (motor) - a criança representa o mundo (e os objetos) apenas pela ação que exerce sobre eles, através de movimentos, de respostas motoras.


a)      Icônico - já consegue representar mentalmente os objetos que a cercam, através da organização visual, percepção do ambiente e formação de modelos.


a)      Simbólico - utiliza símbolos, sem necessidade de imagens ou ação.



Esses modelos de realidade desenvolvem-se em função da informação proveniente do meio e da superação que o sujeito vai alcançando em relação e eles, graças à sua atividade pessoal.
3.   Currículo em espiral
Na área do ensino e da aprendizagem propõe que o currículo seja organizado em espiral, para que o aluno veja o mesmo tópico em diferentes níveis de profundidade e modos de representação.
Esquematicamente ele pode ser apresentado assim:






Exemplificando, temos:
Na construção do conceito de ferrugem, temos no estágio dos “lugares às coisas” a experiência concreta da criança com o objeto prego.


No estágio das “coisas às coisas essenciais” o conceito de que o prego é feito de ferro e a exposição do mesmo ao frio, água, ar, escuro. No estágio da “prova científica das coisas essenciais” a observação da formação da ferrugem e dos seus efeitos sobre o prego. A partir daí é fácil chegar à generalização do conceito.



4.   Quatro características do ensino
  • Œ    Deve apontar experiências que desenvolvam a predisposição para a aprendizagem (motivação).
  •         Deve especificar uma “estrutura ótima” de conhecimento.
  • Ž        Deve estabelecer a sequência mais eficiente para apresentar os conteúdos.
  •         Deve definir uma estrutura de reforços.


Compare as duas situações abaixo e reflita sobre a aprendizagem por descoberta e sobre as quatro características fundamentais do ensino, de que Bruner fala:

SITUAÇÃO 1



SITUAÇÃO 2



“A pedagogia moderna está partindo cada vez mais em direção à visão de que a criança deveria estar ciente de seus próprios processos de pensamento e que é essencial, tanto para o teórico da pedagogia, quanto o professor, ajudá-la a tornar-se mais cognitiva – a estar tão ciente de como realiza sua aprendizagem e pensamento quanto da matéria que está estudando. Atingir habilidade e acumular conhecimento não basta. Pode-se ajudar o aluno a atingir o domínio total ao refletir também sobre como ele está realizando seu trabalho e de que forma sua abordagem pode ser melhorada. Equipá-lo com uma boa teoria da mente – ou com uma teoria do funcionamento mental – constitui uma parte de ajudá-lo a fazê-lo”. (BRUNER, 2002, p. 68).

5.   O conceito de mediação em Bruner





Bruner não enunciou um conceito de mediação, mas ele pode ser claramente percebido na sua obra. Escolhemos três indicativos do que acabamos de dizer:

1º) O autor atribui ênfase à linguagem, em todas as suas formas, como o principal meio de representação simbólica da realidade e, consequentemente, de mediação. O homem constrói o conceito que adquire do mundo através dos "símbolos linguísticos" (palavras) aos quais, gradualmente, vai atribuindo significados ao nível subjetivo e consensual.




2º) A prática docente  também pode ser apontada como fundamental mediação na aprendizagem. Bruner valoriza o ato de ensinar e afirma que os mesmos conteúdos (o relevante na matéria de ensino, sua estrutura, ideias e relações fundamentais) devem ser ensinados periodicamente, através do currículo em espiral, avançando na construção do conhecimento, aperfeiçoando as representações mentais de quem aprende.

O professor é um mediador no processo de aprendizagem, permitindo aos alunos a descoberta dos conteúdos a serem abordados, sendo uma fonte motivadora dessa mesma procura. A teoria indutiva de Bruner leva a que o aluno identifique o problema, formule e teste hipóteses. Este tipo de instrução permite desenvolver a cognição, assim como a intuição, a imaginação e criatividade.



3º) Cada uma das etapas de representação do mundo (motora, icônica e simbólica) requer formas de diferentes de mediação da aprendizagem.
Na primeira (motora) a repetição dos movimentos com o objetivo de memorização, os gestos e as ações através do movimento são muito eficazes para recordar acontecimentos. Para as crianças menores a ação é a melhor forma de comunicação, elas preferem mostrar como se faz a dizer como fazer.
Na segunda etapa (icônica) a criança esta em um estágio operacional do pensamento e sua capacidade de reprodução de imagens já esta desenvolvida. Ela pode desenhar sem ter que ver o objeto antes, já consegue demonstrar um objeto através do desenho. Tem fixação de imagens e memória visual concretas e bem definidas.
Na última etapa (simbólica) consegue utilizar símbolos com certa ordem, ver a realidade de forma correta e passar essa informação. Também pode transformar essa realidade através da elaboração de uma nova realidade, traduzindo suas experiências de forma coerente. 

Encerrando a nossa aula
Esperamos que você tenha gostado da aula de hoje e aprendido alguns conceitos da teoria de

Apresentamos alguns livros importantes do autor traduzidos para o português, cuja leitura sugerimos aos que se interessaram pelo assunto:







Referências bibliográficas
BRUNER, J. Going Beyond the Information Given. New York: Norton, 1973.
BRUNER, J. O Processo da Educação. São Paulo: Nacional, 1973.
BRUNER, J. Uma nova Teoria da Aprendizagem. Rio de Janeiro: Bloch, 1976.
BRUNER, J. A Cultura da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2001.





domingo, 19 de maio de 2013


SEMANA DE 20 A 25 DE MAIO

TÓPICO 5

Gagné e o pioneirismo no processamento da informação

Entramos nesta semana no estudo do quarto teórico da Psicologia da Educação e do conceito de mediação tecnológica que deles podemos extrair.
Robert Gagné talvez tenha sido o primeiro a ser descoberto pelos que estudam e praticam desenho instrucional, interação humano-computado, Educação a Distância. Trata-se de uma teoria que evoluiu de uma perspectiva bastante behaviorista para outra predominantemente cognitiva. Durante essa evolução, três componentes foram a ela incorporadas, a saber: 1) uma série típica de eventos que acompanham cada ato de aprendizagem; 2) uma taxonomia (classificação) de resultados de aprendizagem; 3) condições específicas e ne­cessárias para alcançar cada resultado.

Um pouco da biografia do teórico



Robert Mills Gagné  nasceu em North Andover, Massachusetts, em 1916. Fez o Mestrado na Universidade de Yale e o Doutorado, em Psicologia, na Universidade de Brown. Foi diretor de pesquisa do laboratório da formação aérea dos EUA e consultor do departamento de defesa. Em 1962, publicou o artigo Treinamento Militar e princípios de aprendizagem e em 1968 a obra Hierarquias da Aprendizagem A partir de 1969 tornou-se professor na Universidade Estadual da Flórida.
Considerado neobehaviorista, pela afinidade com as ideias de Skinner, Gagné é um dos pesquisadores interessados na tecnologia educacional, isto é, na aplicação dos princípios da ciência da aprendizagem aos problemas práticos do ensino.
Quando faleceu, em abril de 2002, era professor do Departamento de Pesquisa Educacional da Florida State University.


A Aprendizagem para Gagné

Gagné adotava enfoques behavioristas (comportamentais) e cognitivistas em sua teoria. Para ele, as fases da aprendizagem se apresentam associadas aos processos internos que, por sua vez, podem ser influenciados por processos externos.
A aprendizagem, segundo Gagné, “é uma mudança de estado interior que se manifesta por meio da mudança de comportamento e na persistência dessa mudança. Um observador externo pode reconhecer que houve aprendizagem quando observa a ocorrência de uma mudança comportamental e também a permanência desta mudança.” (MOREIRA, 1999).
Trata-se, portanto, de acordo com Gagné, uma mudança comportamental persistente. Segundo ele as mudanças resultantes do desenvolvimento de estruturas internas constituem-se na maturação. Já a aprendizagem “ocorre quando o indivíduo responde e recebe estimulação de seu ambiente externo, a maturação requer somente crescimento interno” (MOREIRA, 1999).


MATURAÇÃO





Afirma que a aprendizagem ocorre através de uma mudança observável de desempenho e depende de alguns fatores como: a atenção que o professor consiga captar do aluno, a comunicação pelo docente dos objetivos propostos para o discente, o estímulo à evocação de princípios relevantes, o direcionamento do estudo pelo professor, a sensação de progresso do aluno, a reativação e manutenção do feedback do docente ao aluno.
Afirma que a ocorrência de aprendizagem necessita de uma hierarquia de conhecimentos organizada de tal modo, que o nível anterior é pré-requisito para o seguinte. Assim como Ausubel, teórico que vimos anteriormente, entende que a motivação está relacionada ao desejo que o indivíduo tem de realizar, ou à própria realização.

Tipos de aprendizagem para Gagné

A teoria convenciona que existem diferentes tipos ou níveis de aprendizado e que cada tipo requer diferentes tipos de instrução.
Identifica cinco categorias de aprendizgem:


1ª)  
Informação verbal - capacidade de verbalizar nomes de objetos, fatos, trechos de textos e outras informações armazenadas na memória.


2ª)  

      Habilidades intelectuais - discriminar, classificar, aplicar regras.



3ª) 
Estratégias cognitivas - capacidade de criar ou escolher um processo mental que conduza à solução de um problema ou ao desempenho de uma tarefa.

4ª) 
Atitudes - capacidade de adotar um comportamento específico em concordância com valores e crenças adquiridos.

5ª) 
Habilidades motoras - capacidade de desempenhar tarefas físicas segundo padrões estabelecidos.


Os nove eventos (ou etapas, ou níveis) da instrução



O autor afirmava que o professor deveria conhecer bem cada uma das etapas, adequando o seu planejamento e os recursos didáticos aos mesmos.

Primeira Categoria: Preparação

1- Ganhar a Atenção - fazendo uma pergunta provocativa, apresentando um fato interessante, apresentando um problema de interesse imediato para o grupo etc.
2- Descrever os Objetivos - mostrando o que o aluno vai aprender e como ele vai poder utilizar o novo conhecimento; se for o caso, mostrar como essa aquisição de conhecimento vai ser avaliada.
3- Estimular a Conexão com o Conhecimento Anterior - pela explicitação da relação entre o novo e os conceitos já adquiridos.

Segunda Categoria: Desempenho

4- Apresentar o Material a ser Aprendido - na forma de gráficos, textos, simulações etc., respeitando as regras pertinentes (evitar sobrecarga da memória, manter coerência de estilo etc.).
5- Orientar a Aprendizagem - através da apresentação de exemplos, estudos de caso, representações gráficas, material complementar etc.
6- Propiciar Desempenho - criando situações e oferecendo condições para a aplicação do novo conhecimento.
7- Dar feedback - mostrando, imediatamente, o grau de acerto do aprendente na aplicação do conhecimento.

Terceira Categoria: Transferência de Conhecimento

8- Avaliar - através de testes, o grau de assimilação do novo conhecimento.
9- Aumentar a retenção e facilitar a transferência do conhecimento - (entendida como sua aplicação a outras situações que não aquelas vistas no processo de aprendizagem) através de exercícios de aplicação.

Os Nove níveis de aprendizagem de Gagné fornecem um “passo-a-passo” que ajuda que o professor forneça uma experiência de aprendizagem completa e bem sucedida. Cada passo é projetado para ajudar os alunos a compreender e reter a informação de forma eficaz.

Você, que já é professor da educação presencial ou a distância, experimente planejar uma atividade para os seus alunos seguindo as nove etapas propostas por Gagné. Realize a atividade com os alunos e depois avalie o resultado.

Gagné (1974, p. 22) afirma:


“A função de ensinar origina-se, em sentido específico, da determinação das condições de aprendizagem. Ensinar significa organizar as condições exteriores próprias à aprendizagem. Essas condições devem ser organizadas de maneira gradual, levando-se em conta, em cada etapa, as habilidades recentemente adquiridas, a necessidade de retenção dessas habilidades e a situação estimuladora específica exigida pela etapa seguinte. Consequentemente, ensinar é uma atividade bastante complexa e árdua”.


Gagné e a mediação - aprendizagem como processamento da informação

Esta teoria nos permite uma tentativa de explicação do que acontece internamente durante o processo de aprendizagem.


A informação, os estímulos que vem do ambiente são captados pelos órgãos dos sentidos e acolhidos pelos receptores, estruturas do sistema nervoso central do ser humano.
Passam a seguir ao que Gagné chama de “registro sensorial” (os objetos e eventos são codificados de forma a serem reconhecido pelo cérebro) e esta informação é captada pela memória de curto prazo, onde é novamente codificada, mas agora sob a forma de conceitos.
A partir desse momento várias coisas podem acontecer:
·         Com o estímulo adequado essa informação é repetida até que seja armazenada na memória de longa duração.
·         Se a informação codificada estiver fortemente relacionada com uma informação já existente no repertório do indivíduo (o que Bandura chamava de ancoragem), ela pode ser imediatamente acoplada à memória de longa duração.
·         Outra possibilidade é que a informação seja tão estimulada por eventos externos e desperte tanto a motivação, que ela passe de imediato à memória de longa duração.
·         Ainda há, porém, a possibilidade de que a informação nova não seja codificada e, portanto, desprezada pelo indivíduo.


Uma vez que a informação tenha sido registrada em qualquer das duas memórias, pode ser recuperada a qualquer momento, desde que os estímulos externos mostrem que ela é necessária.
Toda a informação recuperada das memórias é transformada em ação, manifestação visível de comportamento.
Gagné fala ainda de dois fatores importantes nesse processo: as expectativas do indivíduo (motivação) e forma ou controle executivo que determina, em cada um de nós, como a informação deve ser codificada, armazenada e recuperada.

Encerrando a nossa aula
Você já deve ter percebido que não há muita facilidade de obter material sobre Gagné em português.
Sugerimos dois vídeos para encerrar a aula.
O primeiro dá uma visão geral da teoria e aborda alguns conceitos de que tratamos na aula. Foi coordenado pela Profª Liane Tarouco, da UFRGS:

O segundo, embora tenha sido produzido em inglês, é fácil de ser compreendido. Trata-se de como ensinar as crianças a fazerem chã, seguindo as nove etapas de instrução descritas por Gagné, lembra?
Primeira Categoria: Preparação
1- Ganhar a Atenção
2- Descrever os Objetivos
3- Estimular a Conexão com o Conhecimento Anterior

Segunda Categoria: Desempenho
4- Apresentar o Material a ser Aprendido
5- Orientar a Aprendizagem
6- Propiciar Desempenho
7- Dar feedback

Terceira Categoria: Transferência de Conhecimento
8- Avaliar
9- Aumentar a retenção e facilitar a transferência do conhecimento 

Divirtam-se... e revejam o conteúdo.


Referências bibliográficas
GAGNÉ, Robert M.. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1980.

MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1999.


















domingo, 12 de maio de 2013




SEMANA DE 13 A 17 DE MAIO


TÓPICO 4

Ausubel e o conceito de aprendizagem significativa.


"Se eu tivesse de reduzir toda a psicologia educacional a um único princípio, diria isto: o fator singular mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece. Descubra o que ele sabe e baseie nisso os seus ensinamentos". (AUSUBEL, 1980)




Caro aluno,
Na aula anterior estudamos alguns conceitos relativos à aprendizagem formulados por Albert Bandura. Vimos como a observação de modelos e a imitação são importantes para ele.
Na aula de hoje vamos abordar outro teórico, David Ausubel, que investiga e descreve o processo de cognição segundo uma perspectiva construtivista. Essa teoria ficou conhecida como Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS). 

Um pouco da biografia do teórico



No fim do século XIX e começo do século XX, os movimentos migratórios judaicos tomaram uma nova direção, a da América. Juntavam-se milhões que deixavam uma Europa empobrecida e dilacerada pelos conflitos, em busca de uma nova vida. A maior parte ia para os Estados Unidos. David Paul Ausubel nasceu nos Estados Unidos, em 1918. Formou-se médico-cirurgião, psiquiatra e psicólogo educacional, e demonstrava extremo interesse pelo estudo da aprendizagem e da educação.
Descreveu criticamente as experiências de castigos e humilhações que viven­ciou na escola e posicionou-se radicalmente contrário à educação tradicional e conservadora.
Em um de seus mais conhecidos livros, Ausubel (1978, p. 31) descreveu algumas experiências escolares de punição e humilhação:
Escandalizou-se (um professor) com um palavrão que eu, patife de seis anos, empreguei certo dia. Com sabão de lixívia lavou-me a boca. Submeti-me. Fiquei de pé num canto o dia inteiro, para servir de escarmento a uma classe de cinquenta meninos assusta­dos. (...) A escola é um cárcere para meninos. O crime de todos é a pouca idade e por isso os carcereiros lhes dão castigos.

Após sua formação acadêmica, em território canadense resolve dedicar-se à educação no intuito de buscar as melhorias necessárias ao verdadeiro aprendizado. Totalmente contra a aprendizagem puramente mecânica, torna-se um representante do cognitivismo, e propõe uma aprendizagem que tenha uma "estrutura cognitivista", de modo a intensificar a aprendizagem como um processo de armazenamento de informações que, ao agrupar-se à estrutura mental do indivíduo, seja manipulada e utilizada adequadamente no futuro, através da organização e integração dos conteúdos apreendidos significativamente.
Influenciado por Piaget, desenvolveu uma teoria da aprendizagem humana em sala de aula, em uma época em que o estudo da aprendizagem escolar acontecia a partir de leis e pesquisas realizadas em laboratórios.
Pesquisou a aprendizagem de caráter cognitivo: a integração dos novos con­teúdos às estruturas cognitivas previamente existentes no sujeito. Defendia a abolição da aprendizagem repetitiva e baseada em memorização.
Em 1973, retirou-se da vida acadêmica e dedicou-se exclusivamente à clínica psiquiátrica. Suas publicações mais recentes têm como tema a adicção a drogas e as manifestações psicopatológicas da personalidade (neuroses, psicoses).

Principais conceitos da Teoria

1.Aprendizagem significativa

A teoria de Ausubel busca explicar como ocorre a aprendizagem de um conjunto organizado de conhecimentos no ambiente escolar.
É a partir de conteúdos que o indivíduo já possui que a aprendi­zagem ocorre. Estes conteúdos prévios deverão receber novos conteúdos que, por sua vez, poderão modificar e dar outras significações àqueles preexistentes. Nas palavras do próprio Ausubel (apud MOREIRA e MASINI, 1982, p. 8), “(...) o fator isolado mais importante influen­ciando a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe; determine isso e ensine-o de acordo”.
O autor fala de três tipos de aprendizagem:
  • por recepção - nela o conteúdo a ser aprendido é apresentado ao aluno na sua forma final. O professor simplesmente apre­senta ao aluno a generalização do que é o conteúdo e exige que ele aprenda e se recorde dele. 





  •    por descoberta – nela o conteúdo a ser aprendido deve ser descoberto pelo aluno. A tarefa para ele é reorganizar um conjunto de informações e integrá-lo ao conhecimento que já possui para produzir um novo conceito ou proposição.





  •  significativa – nela o aluno a relaciona o novo conhecimento com a estrutura cognitiva que possui e formula a generalização do mesmo.

Moreira e Masini (1982) afirmam que, para que a aprendizagem significativa ocorra, são necessárias duas condições:
a) O aluno precisa ter motivação para aprender: se o indivíduo apenas memorizar o conteúdo, arbitrária e literalmente, a aprendizagem será mecânica.
b) O conteúdo escolar a ser aprendido tem de ser lógica e psicolo­gicamente significativo: o significado lógico depende somente da natureza do conteúdo, e o significado psicológico é uma experi­ência que cada indivíduo tem, que depende de suas experiências e da motivação.


Aprender significativamente traz para o indivíduo três grandes vantagens:
  • O conhecimento adquirido de maneira significativa é retido e lembrado por mais tempo.
  • A aprendizagem significativa aumenta a capacidade de aprender outros conteúdos de uma maneira mais fácil, ainda que haja o esquecimento do conteúdo original.
  • Ela facilita a aprendizagem seguinte (reaprendizagem).

Segundo Ausubel et al. (1980, p. 159):
O aprendizado significativo acontece quando uma informação nova é adquirida mediante um esforço deliberado por parte do aprendiz em ligar a informação nova com conceitos ou proposi­ções relevantes preexistentes em sua estrutura cognitiva.

     2. Princípios da aprendizagem significativa
São dois os princípios, segundo Ausubel:
1º) Diferenciação progressiva: este princípio propõe que, na progra­mação de um conteúdo, as ideias e os conceitos devem ser preferencialmente trabalhados em uma ordem crescente de especificidade, dos mais gerais para os mais específicos.

2º) Reconciliação integrativa: este princípio propõe que, na apresentação de um conteúdo, o professor procure tornar claras as semelhanças e diferenças entre ideias, quando estas são encontradas em vários contextos. 


3. Tipos de aprendizagem significativa
Ausubel fala de três tipos de aprendizagem significativa:
a. Aprendizagem de representações: consiste na aprendizagem de símbolos, em geral palavras, ou o que eles representam.
Exemplo: Depois de observar várias vezes a relação entre a palavra “copo” e o conteúdo cognitivo (imagem visual do objeto), a apresen­tação apenas da palavra será capaz de provocar na criança a imagem visual do copo. Isto permitirá que ela desenhe o objeto, ou que escreva a palavra que o designa.
b. Aprendizagem de proposições: refere-se não mais à aprendi­zagem de um símbolo, mas de uma relação entre ideias. A proposição ou sentença a ser aprendida é relacionada com as ideias já existentes na estrutura cognitiva.
Exemplo: Realizada a aprendizagem representacional de copo, a criança vai aprender que este objeto pode ser feito de materiais diversos; que uns são mais resistentes do que outros; que há variações de valor/preço, de acordo com os diferentes materiais.
c. Aprendizagem de conceitos: Ausubel distingue dois tipos principais de aquisição de conceitos: a formação de conceitos (própria da criança de 5 a 6 anos, é uma aprendizagem por descoberta na qual int4. ervêm processos psicológicos como a discriminação, a generalização, o levantamento e a comprovação de hipóteses) e a assimilação de concei­tos (própria de crianças a partir de 6 ou 7 anos, dos adolescentes e dos adultos, que aprendem novos significados conceituais quando lhes são apresentados atributos dos conceitos e quando relacionam estes atributos com ideias já estabelecidas em suas estruturas cognitivas).
 O esquema abaixo mostra a relação entre os três tipos de aprendizagem significativa descritos por Ausubel:



4.  Os conceitos subsunçores – a importância dos organizadores prévios na aprendizagem



    Já dissemos que, para Ausubel, um conhecimento torna-se sig­nificativo pela interação com
   alguns conhecimentos prévios relevantes, que já existem na mente de quem aprende. Nesse
  processo, há conceitos, chamados subsunçores, rele­vantes e já existentes na estrutura     
ccognitiva do indivíduo, e que facilitam a apren­dizagem de novos conceitos. Eles os        
   modificam e podem ser por eles modificados.
  A ligação entre os subsunçores e o novo conhecimento é feita pelos chamados de
o organizadores prévios. São materiais intro­dutórios apresentados antes do material a ser           
a aprendido. Têm a fun­ção de servir de ponte entre o que o indiví­duo já sabe e o que ele 
  deve saber, para que o material possa ser aprendido de forma significativa. Facilitam a
   aprendizagem por­que funcionam como “pontes cognitivas”.

   No decorrer da aprendizagem significativa, os conceitos sub­sunçores modificam-se e 
d desenvolvem-se, tornando-se cada vez mais diferenciados, proporcionando refinamento
   conceptual, ideias densas e fortalecimento das possibilidades de aprendizagens
   significativas.   Para Ausubel et al. (1980, p. 34):
      (...) a essência do processo de aprendizagem significativa é que as idéias expressas simbolicamente são 
  relacionadas às informações previamente adquiridas pelo aluno através de uma relação não-arbitrária e 
 substantiva (não-literal). Esta relação significa que as idéias são relacionadas a algum aspecto relevante 
  existente na estrutura cognitiva do aluno, como, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito, uma 
   proposição, já significativo.

   O organizador prévio é, portanto, um material introdutório que é apresentado ao estudante 
  antes do conteúdo que vai ser aprendido. Con­siste em informações amplas e genéricas, e 
 pode assumir uma variedade de formas: uma afirmação, um parágrafo descritivo, um 
 questionário, uma pergunta, uma demonstração ou um filme. Pode ser uma sentença ou uma
  unidade que precede outra unidade dentro do programa de uma disciplina.
  A principal função do organizador é estabelecer uma ponte cog­nitiva entre o que o aluno já
  sabe e aquilo que ele precisa saber, para que possa aprender com sucesso a nova tarefa.
  O autor usa a metáfora da “ancoragem”: é como se os novos conhecimentos lançassem uma “ âncora” e se firmassem em conhecimentos prévios, tornando-se assim mais facilmente 
   aprendidos.


           5.   Formas de aprendizagem significativa


        a) Aprendizagem subordinada (principal): novas ideias são subordinadas às ideias relevantes,
 d     e maior nível de abstração, generalidade e inclusividade já existentes (relação entre o que
 se    aprende e o que já se sabe).
Exemplo:


b) Aprendizagem superordenada: o novo conhecimento a ser aprendido é mais geral que as ideias relevantes que o indivíduo já possui (relação entre o que já se sabe e o conceito novo que se aprende).
     Exemplo:




     c) Aprendizagem combinatória: a nova informação não é suficien­temente ampla para 
  absorver os subsunçores, mas também é muito abrangente para ser absorvida por eles. Há
  uma combinação de conceitos dando origem a novos esquemas mentais.


   6. A mediação em Ausubel – algumas aplicações educacionais da teoria





   Destacamos, para a formação do professor, a importância do conhecimento dos conceitos 
  de estrutura cognitiva, de aprendizagem significativa e mecânica, o princípio de partir
  sempre daquilo que o aluno já sabe e o uso dos organizadores prévios (subsunçores).
  Faria (1989) propõe uma sequência de sete etapas no planejamento de um curso ou 
  disciplina:
a) Seleção dos resultados de aprendizagem: trata-se de fazer uma lista de resultados de aprendizagem pretendidos, privilegiando aqueles ligados aos conceitos mais importantes da disciplina e do curso que o aluno está fazendo. Devem ser selecionados também os conceitos mais específicos, relacionados aos mais amplos já escolhidos, até um dado nível de profundidade que seja adequado aos alunos.
b) Organização sequencial do conteúdo curricular: agora é o momento de organizar os itens curriculares selecionados na etapa anterior, de modo que os mais inclusivos sejam trabalhados antes dos mais específicos, para os quais servirão de suporte.
c) Reconciliação integrativa: consiste na aplicação deste prin­cípio (tornar claras as semelhanças e diferenças entre ideias, quando estas são encontradas em vários contextos) ao material e às aulas que serão preparados.
d) Verificação dos pré-requisitos: agora o professor precisa deter­minar quais serão os pré-requisitos necessários aos alunos para que efetuem a aprendizagem significativa deste novo material. Para esta verificação, pode ser usado um pré-teste ou teste de diagnóstico, aplicado à turma.
e) Avaliação da aprendizagem: a avaliação terá outra finalidade, além de analisar quanto os alunos conseguiram aprender sig­nificativamente do que foi ensinado. Esta nova finalidade é a de medir a posse e a estabilidade dos conceitos subsunçores que serão necessários para se trabalhar os novos conteúdos do curso e que não foram trabalhados nesta disciplina.
g) Estratégias e recursos instrucionais para a promoção da apren­dizagem significativa: estão relacionadas com o uso de variados materiais instrucionais e à apresentação de aulas expositivas. Em ambos os casos, o professor deve levar em conta os princípios da diferenciação progressiva e da reconciliação integrativa; o trabalho dos conteúdos de acordo com o que o aluno sabe e de forma significativa para ele (linguagem, metodologia, exemplos relacionados à sua realidade); e o cuidado com fatores relativos à manutenção da atenção do aluno e à habilidade do professor em se comunicar bem.


Encerrando a nossa aula

O esquema que apresentamos agora pretende fazer uma síntese dos conceitos de Ausubel
envolvidos no processo de aprendizagem e da maneira como eles se articulam.




   Ainda ilustrando e sintetizando o conteúdo da aula sugerimos dois vídeos cujos links 
   
    apresentamos a seguir.


Referências bibliográficas
AUSUBEL, David Paul, NOVAK, Joseph e HANESIAN, Helen. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

_____. Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1978.

FARIA, W. de. Aprendizagem e planejamento de ensino. São Paulo: Ática, 1989.

MORAES, Rony M. A teoria da aprendizagem significativa – tas. Disponível em http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1182.

MOREIRA, M. A. e MASINI, E. Aprendizagem Significativa - A teoria de David Ausubel. São Paulo: Editora Moraes, 1982.